quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Entrevista a Miguel Torga

Um grande escritor e poeta

Miguel Torga - Caricatura de Vasco Gargalo

   Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, nasceu a 12 de agosto de 1907, em S. Martinho de Anta, Sabrosa.
Foi um dos mais importantes poetas e escritores portugueses do século XX. Este autor premiado destacou-se como poeta, contista e memorialista, mas também escreveu romances, peças de teatro e ensaios, tendo deixado mais de 50 obras publicadas. Notável pela sua técnica narrativa e pela expressividade da sua linguagem, conseguiu conferir aos seus textos um ritmo vigoroso e original. Dois dos seus livros mais emblemáticos são Diário e Bichos.
Miguel Torga morreu a 17 de janeiro de 1995, em Coimbra. No entanto, antes deu-nos esta entrevista.


Alunos do 7ºB - Por que escolheu o pseudónimo Miguel Torga?
Torga ou a Poética da Vida, de Miguel Salazar
Miguel Torga – Miguel é o nome de artistas que eu sempre admirei bastante, nomeadamente Miguel de Cervantes, Miguel de Unamuno e Miguel Ângelo. É também o nome do arcanjo S. Miguel. O pseudónimo Torga não foi escolhido ao acaso. A torga é uma urze, uma planta bravia, humilde, espontânea, cujo habitat é o chão agreste de Portugal. Encontra-se particularmente nas serranias do norte, região que me viu nascer. Assim sendo, esta designação tem tudo a ver com o meu carácter de “homem da montanha”.

Alunos do 7º B – Nos seus livros fala muito da natureza. Pode explicar o porquê dessa atração pela terra e pelos animais?
Miguel Torga Assim que os meus pais consideraram que eu já tinha força e resistência para isso, puseram-me a trabalhar no campo. Aprendi da pior maneira o que era o trabalho árduo, sem pausas e sem descanso. Trabalhávamos de sol a sol e, mesmo que terminássemos uma tarefa, havia logo outra para fazer. Apesar de a vida rural exigir muito tempo, dedicação e força, convivia com a natureza dia após dia e acabei por me afeiçoar a ela, expondo depois isso nos meus textos.

Alunos do 7ºB – Se pudesse, mudaria de alguma forma a sua infância?
Miguel Torga – Por um lado, sim, pois teria tido menos dificuldades económicas e teria sofrido menos. No entanto, por outro, não, dado que o sofrimento, a pobreza e a emigração, características do mundo rural onde vivi, me ajudaram bastante a compreender um conceito de vida diferente e me incentivaram a escrever, uma vez que, deste modo, posso expressar nos meus livros tudo o que senti nesse período da minha vida.

Alunos do 7ºB  – Como foi a sua juventude?
Miguel Torga – Comecei por estudar no seminário de Lamego, mas, pouco tempo depois, desisti. Emigrei com 13 anos para o Brasil, onde trabalhei durante cinco anos na fazenda do meu tio, em Minas Gerais. Fui capinador, apanhador de café, vaqueiro e caçador de cobras.

Alunos do 7ºB  – Depois de ter começado a escrever, voltou a sentir necessidade de emigrar?
Miguel Torga – Não, porque, ao escrever, sentia-me sempre bem, vivo e feliz. Sentia que tinha encontrado a minha “ocupação”. Eu emigrei muito novo por necessidade, para poder começar a trabalhar. A escrita foi e é a minha vida, o espaço que faltava dentro de mim.

Alunos do 7º B – Como arranjou os recursos necessários para frequentar a faculdade de medicina?
Miguel Torga – Enquanto estava no Brasil, o meu tio percebeu que eu tinha capacidades para ingressar na faculdade. Como reconhecimento da ajuda que eu lhe tinha dado, ele pagou os meus estudos.

Alunos do 7º B – Sempre soube que queria ser escritor?
Miguel Torga – Na verdade, não. Para além de ter sido escritor, fui, durante muitos anos, otorrinolaringologista. Exerci esta profissão sobretudo, em Coimbra, mas, antes disso, trabalhei como médico em S. Martinho da Anta.

Alunos do 7ºB  – Qual foi a obra poética que mais o emocionou e de que mais gostou?
Miguel Torga – Sinceramente, gostei bastante de todas as obras que escrevi, mas realmente houve uma, “Cântico do Homem”, que me emocionou bastante. As pessoas dizem que sou muito expressivo e que sempre trabalhei muito. É devido a este trabalho e esforço que consegui tornar-me importante no mundo da escrita.

Alunos do 7ºB  – Por que foi preso pela PIDE?
Miguel Torga – Sempre participei muito na vida social e política. Estava, nessa altura, contra o Estado Novo e não podia ver os crimes da guerra sem os denunciar. Algumas das minhas obras chegaram a ser censuradas. Sabeis que durante o Estado Novo não havia liberdade de expressão e muitas pessoas foram presas pelo que disseram ou escreveram. 

Alunos do 7ºB – Por último, qual foi a sensação de receber todos aqueles prémios que lhe foram atribuídos, devido ao seu empenho e dedicação?
Miguel Torga – Foi uma sensação maravilhosa, fiquei muito orgulhoso do meu trabalho. Sentia-me como se estivesse nas nuvens, sentia que toda a minha escrita e trabalho nunca foram em vão.

Alunos do 7º B – Agradecemos-lhe muito a sua disponibilidade e a sua simpatia. Foi um prazer conhecê-lo pessoalmente. 

  
Trabalho elaborado por Inês Costa, Maria Luís, Ana Sofia Arala, Ana Francisca e Miguel Meirinhos do 7º B

Conto "Natal", lido por Miguel Torga

Poema "Ariane", declamado por Inês Veiga Macedo

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