Há algum tempo assisti a um colóquio em que o tema central
era precisamente a poesia.
Era um colóquio para jovens e eu sentava-me junto de
alguns, ouvindo alguém que se esforçava por demonstrar que não era possível
dizer o que era poesia.
Ao meu lado, baixinho, para não interromper, o Fernando
indignou-se:
-
Ora esta! Mas eu sei o que é...
Eu – Então diz lá.
Fernando – A poesia é a beleza da vida.
Eu – Parece-me que tens razão.
Logo o João meteu-se na conversa:
- Então as coisas feias não têm poesia?!
Eu – Parece-me que tens razão: as coisas feias também têm
poesia.
Salta o André: - Nesse caso a poesia pode ser o sentido das
coisas.
E logo o irmão mais novo do André acrescentou: - Então a
poesia é uma maneira de olhar o mundo!
Eu, entusiasmada – Tens razão. É isso mesmo!
O Fernando, que tinha sido o primeiro a dar a sua opinião
ali naquele canto onde nós “pré-coloquiávamos” baixinho, admirava-se:
- Mas afinal quem é que tem razão? O que eu disse não
estava certo?
Eu – Pois estava.
E expliquei que estava. E tudo o mais também. Porque a
poesia é a beleza e o sentido das coisas e de nós próprios. É uma maneira de
olhar o mundo. É uma forma de atenção a tudo. Ela pode estar em toda a parte:
nós, às vezes é que não estamos onde ela está, só porque passamos ou vivemos
distraídos.
E outras vezes estamos e encontramo-la.
E outras vezes encontramos a poesia e não a sabemos
escrever.
Encontrá-la já é maravilhoso. E escrevê-la? Que difícil é o
caminho da escrita!
Maria Alberta Menéres, O
poeta faz-se aos 10 anos
(Texto com supressões)
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