quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Autobiografia de Sophia de Mello Breyner Andresen


Nasci a 6 de novembro 1919, no Porto, onde passei a minha infância. A minha mãe, Maria Amélia de Mello Breyner, era neta do Conde de Mafra e uma leitora voraz. O meu pai, João Henrique Andresen, dedicou-se, inicialmente, à cabotagem e, posteriormente, ao comércio de vinhos. 
 Aos 3 anos, contactei pela primeira vez com a poesia, pois a minha ama Laura, triste por eu não poder participar no teatro de Natal que as crianças da família preparavam para todos os convidados, ensinou-me a recitar o romance popular “A nau Catrineta”. Devo, contudo, ao meu avô, Jan Henrik Andresen, o aprofundamento desse amor pela literatura, mas devo-lhe também a criação de inúmeras memórias que viriam a povoar os meus contos infantis. O meu avô era o proprietário da Quinta do Campo Alegre, hoje, o Jardim Botânico do Porto, e eu e o meu primo, o escritor Ruben A., brincávamos nos seus jardins, tal como Joana e Manuel do espetáculo a que ides assistir.  Gostava muito de ler, mas a minha mãe criticava-me sempre, dizendo que eu lia pouco. Escrevi o meu primeiro poema aos 12 anos.
Entre 1936-1939 frequentei o curso de Filologia Clássica, na Universidade de Lisboa. Publiquei os primeiros versos em 1940, nos Cadernos de Poesia.
Na sequência do meu casamento com o jornalista, político e advogado, Francisco Sousa Tavares, em 1946, passei a viver em Lisboa. Fui mãe de cinco filhos. «Comecei a inventar histórias para crianças quando os meus filhos tiveram sarampo. Mandei comprar alguns livros que tentei ler em voz alta. Mas não suportei a pieguice da linguagem nem a sentimentalidade da “mensagem”: uma criança é uma criança, não é um pateta. Atirei os livros fora e resolvi inventar. Procurei a memória daquilo que tinha fascinado a minha própria infância. Nas minhas histórias para crianças quase tudo é escrito a partir dos lugares da minha infância.» Além da literatura infantil, escrevi também contos, artigos, ensaios e peças de teatro.
Em termos cívicos, caracterizo-me por uma atitude interventiva, pois denunciei ativamente o regime salazarista e os seus seguidores. Apoiei a candidatura do general Humberto Delgado e fiz parte dos movimentos católicos contra o antigo regime, tendo sido uma das subscritoras da "Carta dos 101 Católicos" contra a guerra colonial e o apoio da Igreja Católica à política de Salazar. Após o 25 de Abril, fui eleita para a Assembleia Constituinte, em 1975, pelo círculo do Porto, numa lista do Partido Socialista.
A minha obra está traduzida em várias línguas e foi várias vezes premiada. Recebi, entre outros, o Prémio Camões, em 1999, e o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana – foi a primeira vez que um português venceu este prestigiado galardão.
Faleci a 2 de julho de 2004, em Lisboa. Dez anos depois, em 2014, foram-me concedidas honras de Estado e os meus restos mortais foram transladados para o Panteão Nacional.

Autobiografia redigida pelas alunas Inês Adão, Maria Brandão, Leonor Pinto, Matilde Dias, Inês Marques e Maria Figueira, do  6.ºC

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