sexta-feira, 12 de abril de 2019

Sobre o livro “À Espera de Bojangles”, de Olivier Bourdeaut


O livro de Olivier Bourdeaut retrata a história de um amor inesperado e duma vida familiar extravagante, intensa, em que todos os esquemas tradicionais da vivência familiar entram em rotura. Nesta história podemos esperar o anormal, o irracional, a loucura, tudo ao som de Mr. Bojangles, da autoria de Nina Simone.
O texto seguinte foi inspirado no final da história, em que Georgete fica com demência e, tendo noção do “fardo” que é para o seu filho e marido, decide colocar término à sua vida.

Carta de Despedida
A imperfeição da loucura desvela a beleza da vida
De que me vale a lucidez quando a loucura me faz feliz?
Se ser louca é nunca desistir,
Se ser louca é romper com as convenções,
Se ser louca é procurar a essência dos sentidos,
Se ser louca é estar à mercê da beleza do outro,
Se ser louca é voar no imaginário da felicidade,
Se ser louca é abraçar com o coração os meus,
Se ser louca é entrega,
Se ser louca é acariciar as virtudes desvendadas pelos outros,
Se ser louca é não prescindir dos que nos amam,
Se ser louca é andar de venda nos olhos e encontrar um caminho com sentido,
Se ser louca é aventura pelo desconhecido,
Se ser louca é esbarrar continuamente com a surpresa,
Se ser louca é viver numa festa que não finda,
Então eu quero ser louca…
Georges, foi o que veio a minha mente louca no dia em que te encontrei.
Agradece a dança luminosa do mundo em teu redor…foi nela que te descobri.
Nada nos dá mais a medida do real do que o passo e a mão. Por isso vivi a teu lado, de mão dada…e tu percebeste que tocar o amor não é senão aceitar do outro o que nos escapa.
Agora, quando sinto o cansaço da eterna festa, o corpo necessita do ‘repouso da guerreira’ e, fitando o olhar na memória, esvazio-me, de alma cheia e de coração apertado (pois a jornada tornou-se dor para mim e para os meus amores) escrevo que a minha vida foi uma loucura dançada na leveza doce dos teus braços ao som de Mr. Bojangles.
Meu Georges, não te esqueças do que juraste perante os anjos….espero por ti.
Georgette dos mil nomes            



Texto redigido pelo professor Plácido Santos

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